Sem Filtro: "falta vontade de querer renascer aquele cantinho"
- Miguel Ângelo Santos
- 16 de out. de 2018
- 3 min de leitura

Podia dizer que Pataias foi o cantinho que o Homem escolheu e que as Paredes da Vitória foram o cantinho que Deus nos deu, mas isto seria uma pura divinização do sítio. As paredes da vitória são o coração de qualquer pataiense, ou tão vulgarmente chamados de pataeiros. Mas das muitas joias que as Paredes nos presenteiam, o parque de campismo é o tema de hoje. O parque de campismo hoje não atinge a capacidade de outrora, é cada vez mais uma memória que plana e que se mantém viva por este povo saudosista que o frequenta, que não fosse a memória de outros tempos ou não lá voltaria. É verdade e empírico que o nevoeiro atinge o parque todas as manhãs, mas não podemos entrar em ideias sebastianistas e esperar que um salvador por ali entre e faça aquilo que, na minha opinião, tem faltado e o que tem faltado é investimento.
É fácil dar o meu ponto de vista, visto que não estou dentro da Freguesia e tentar governar a casa de fora, afinal só quem está dentro da situação sabe o que a casa gasta. O parque de campismo é frequentado todos os anos pelas mais variadas pessoas, eu por exemplo já recebi desde gorjetas que vão de chocolate suíço a 20 euros por ajudar a despejar um lixo químico.
O parque de Campismo tem tido a sua vitalidade num momento especial, o festival do atlântico, mas o festival do atlântico coloca uma grande dúvida existencial naquele sítio, porque apesar de lhe dar a tão necessária vitalidade também demonstra ao parque de campismo como o Inferno é, ou entrado em filosofias, se Dante voltasse veria no grande incêndio e no festival dois níveis de inferno. Não quero dizer com isto que sou contra festivais no parque de campismo porque tanto o Wipeout como o festival do atlântico demonstram que o parque de campismo ainda consegue, apesar de ainda pequena, uma revolução e manter-se atualizado com o tempo. Mas aquilo que faz com que o parque de campismo esteja cada vez menos a ser o parque de campismo de outrora é as condições. Só para se ter a ideia nos WC, a “meio caminho”, as telhas que fazem a cobertura estão comprovadas que provocam cancro. As sanitas todos os dias são o pesadelo de qualquer trabalhador, os esgotos entupem facilmente, falta wi-fi que se estenda pelo território que o parque de campismo ocupa. E, parece, que para quem lá trabalha, esta situação de falta de investimento começa a ser uma chaga, apesar de trabalhar no parque de campismo, não chega muitas vezes a ser "trabalho", por causa das pessoas que nos fazem o dia sempre com um bom dia alegre e sempre dispostos a ajudar, para não falar do excelente ar que lá se respira.
Outrora, era raro ver certos aspetos da natureza no parque de campismo, olhem este verão foi muito normal, desde esquilos a qualquer outro tipo de animal, o parque de campismo reúne em si todo um ambiente de apogeu do espírito da calma, nem que seja para o bolso porque falamos de um dos parques de campismo mais baratos da Europa. Mas neste momento a questão é outra porque se paga pouco para ter pouco, está na Hora de dar ao parque de campismo aquilo que, entretanto, o parque de campismo deu aos outros. Falta amor acima de tudo, falta uma vontade de querer renascer aquele cantinho. Quantas pessoas não se lembram de um parque de campismo ser noutro sítio, porque a verdade é esta o parque de campismo vive cada vez mais num mundo idealizado da memória, mas a memória não pode ser o agente publicitário deste parque, pois como sabemos a memória nesta condição humana é algo tão pouco e tão frágil, ou por outro lado podemos continuar a propagar a memória de duas maneiras. A primeira, investindo e não deixar esta memória morrer numa geração e dar ás gerações futuras memórias que poderão ou não dar a vontade de no final do check out dizer, “Pretendo cá voltar para o ano”, ou então podemos continuar a propagar a memória desta geração e quando ela for colhida deixarmos o parque de campismo com ela ser colhida. Mas para algo tão grande parece tão pouca deixar que as leis temporais nele se apliquem, porque seria tão bom para gerações futuras terem um sítio que apesar de físico muitas vezes nos cura o que ultrapassa a matéria carnal.
Comentarios