O São Bernardo e a praia
- Ana Valente
- 22 de ago. de 2019
- 3 min de leitura
É cedo. São dez da manhã. A hora combinada. Bem... não é cedo para todos. Mas para mim é. Estou de férias. As aulas acabaram em junho. Estamos em agosto. E, por estes dias, não me importo de “madrugar” para ir à praia.
Faltam quinze minutos para o autocarro arrancar. Chegamos com antecedência, para garantir os bilhetes.
A viagem de Alcobaça até à Nazaré demora meia hora. O calor está a apertar. O ar condicionado não funciona. Só funciona o entusiasmo. Somos só três, hoje. Costumamos ser mais. Algumas estão de férias, com os pais, noutras paragens. Ali, ao nosso grupo juntam-se colegas dos tempos da D. Pedro e também rapazes e raparigas conhecidos da D. Inês. É raro eu fazer aquela viagem. E gosto.
À chegada, começa a peregrinação. Tudo em fila, ruas fora. De mochilas às costas e bolas nas mãos. Da garagem dos autocarros até à praia.
Quando se chega à marginal vê-se, ao fundo a Bola Nívea. É lá que nos vamos instalar e para onde caminhamos.
Conversa daqui, conversa dali... até que de repente se mete os pés na areia. São quase 11 horas.
O dia passa rápido. Banhos no mar, jogos de cartas e de raquetes. Eu, como não tenho jeito nem para uma, nem para outra coisa, fico ao lado deles, sentada na toalha. Com alguma vergonha. Mas rio-me muito. Passo pelas brasas, também. Pouco tempo, porque ali ninguém deixa dormir ninguém. Observo ainda os namoricos de verão de uns e de outros. Partilham-se as batatas fritas, os sumos e as bolachas. Vamos todos juntos comprar os gelados.
Às seis da tarde já estamos a regressar a Alcobaça. O autocarro está cheio. E agora, quase todos adormecem, com as cabeças coladas aos vidros. O entusiasmo da praia dá tréguas naquela meia hora de caminho. O importante é retemperar as forças. Estamos em plena semana da Feira de São Bernardo. E a noite promete: hoje é dia de concerto do Quim Barreiros.
E, por isso, depois dos banhos e dos jantares em casa, há novo ponto de encontro. Junto ao campo de ténis. Dali, seguimos a pé até à feira. O recinto do palco está cheio: homens, mulheres, crianças, casais novos, de meia idade, mais velhos. Famílias inteiras. Todos esperam para ouvir o acordéon e as gargalhadas do rei da música tradicional portuguesa.
De repente, acendem-se as luzes do palco e “pumba”, ouve-se a “A garagem da vizinha” e, partir daquele momento, foram quase duas horas de muita animação. Um verdadeiro sucesso. ‘Casa’ completamente cheia.
Só depois seguimos para os carroceis. Junto ao rio. Carrinhos de choque de um lado, o ‘kanguro louco’ do outro. Barquinhos na água para os mais novos primeiro, a ‘mini’ montanha-russa mais à frente. As conversas, os encontros, a contagem dos euros para a compra das fichas que permitem andar naquelas aventuras, um, duas e três vezes... a contagem das moedas, entre todos, para comprar algodão doce ou pipocas.
Hoje, mais de dez anos depois, as festas vão a meio. O sucesso daquele ano de 2008 parece estar a repetir-se por estes dias.
Mas, mais importante do que isso, é o imaginário e a memória do mês de agosto: férias, praia, na Nazaré, em São Martinho ou nas Paredes, gelados, de carro ou de autocarro, brincadeiras, namoricos e namoros a sério, carroceis e concertos na Feira da São Bernardo. A menos de um mês do arranque do novo ano letivo. Na secundária ou na faculdade. A contagem decrescente para o regresso do mês de setembro.
Uma combinação que continua a fazer sentido e que assim se revela (ainda, felizmente) para as atuais jovens gerações. Os tempos são outros, é um facto. A dimensão da feira é também outra. Mas a ânsia pelo São Bernardo existe. E vai existir sempre. A marcar o final do verão e das férias alargadas. Em Alcobaça. Em casa.
Divirtam-se! Boa feira. Até breve.
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