O caminho para a cidade do Amor faz-se por entre buracos
- João Guilherme Ferreira
- 25 de out. de 2018
- 3 min de leitura
Da última vez que escrevi neste espaço, como leram os mais atentos, deixei no ar outro dos problemas que me salta à vista assim que chego a Alcobaça. Este problema é tão visível que desde logo me deixou perplexo. As infra-estruturas rodoviárias que servem o município estão, na maioria, num estado de degradação, e desculpem me os mais sensíveis, dignas de um país de terceiro mundo.
Do ponto de vista humorístico, posso afirmar que chegar a Alcobaça me remete para a densa selva africana, com vegetação que ultrapassa o metro de altura. Os buracos sucedem-se por entres as curvas de quem percorre a N8 e as marcações rodoviárias não passam de traços apagados perdidos no tempo, que tão bem resumem o estado da rodovia alcobacense.
O que mais me espantou nesta situação foi a comparação que fiz com o concelho onde nasci, a Guarda. No norte de Portugal a maioria das estradas está remendada, dos grandes aglomerados populacionais às pequenas aldeias isoladas na Serra. A grande diferença é que as estradas da cidade mais alta de Portugal servem menos de metade dos habitantes que povoam o concelho de Alcobaça.
Muitas vezes perguntei a mim mesmo, sou o único que se dá conta deste problema? Em conversas paralelas percebi que não, mas nos últimos três anos poucas foram as mudanças que vi implementadas pela tutela. Numa pequena investigação percebi também que há falta de sintonia entre a Infraestruturas de Portugal e as freguesias/autarquia. Um dos casos foi até noticiado pela TVI: o estado lastimável das bermas na estrada que liga Alfeizerão e São Martinho do Porto.
Escrevo hoje sobre a rodovia por dois problemas graves que levanta à população: os problemas de segurança e os problemas para a economia local.
No que toca à segurança rodoviária, o relatório anual da Autoridade Nacional para a Segurança Rodoviária mostra que Alcobaça é o segundo concelho com o maior número de acidentes rodoviários que envolvem vítimas, no distrito de Leiria. Apenas a capital de distrito supera os números de Alcobaça. A realidade é ainda mais grave porque houve um aumento do número de vítimas (feridos e mortos): 229 em 2015, 239 em 2016 e 248 em 2017.
Sem tempo para humor, os buracos e a vegetação na estrada passam a problema muito grave quando as rodovias se tornam cemitérios. De facto, os mais cépticos podem afirmar que não há uma relação direta, mas acredito, a nível pessoal e com estudos que o comprovam, que o estado degradado das rodovias é uma das principais causas dos acidentes rodoviários.
Outro dos pontos essenciais é o problema que gera à economia local. Quando falava de turismo, na última crónica, coloquei as infra-estruturas como um dos problemas a resolver para atrair mais turismo. Por muito que o ditado diga “quem passa por Alcobaça, não passa sem cá voltar”, a verdade é que estas condicionantes podem colocar o dito popular em causa. Numa cidade onde os transportes públicos são diminutos (o que é regra geral nas cidades médias), é de carro que os turistas chegam aos principais pontos turísticos, mas que vontade terá um turista de voltar a um local que coloca em causa a própria segurança?
Para a economia local seria importante melhorar a rede de estradas para que se facilite a troca de mercadorias e se melhore a atração de empresas. Que empresa se querem fixar num concelho mal servido pela rodovia?
As soluções passam por um maior investimento na rodovia e pela criação de medidas de segurança nas estradas, seja este feito pela autarquia ou pelo poder central. Certo é que há fundos destinados ao melhoramento da rodovia, basta que os problemas sejam levantados e que uma candidatura seja feita.
Muito mais havia para abordar, das curvas da A8 à terra batida do IC2, mas deixo uma curiosa nota. São muitos os eleitores, que noutros pontos do país, se queixam que o alcatrão só abunda em ano de eleições autárquicas, para infortúnio dos alcobacenses nem nesse ano (2017) o betume saiu à rua.
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